Lendas e superstições
Ainda me vejo na esquina da Vigário Sales com a Visconde de Taunay, olhando para o espaço ocupado pelo jardim atual. Cerro os olhos e passo a percorrer uma a uma as casas que ali existiam. Vislumbro a imagem de todas as pessoas que nelas residiam. O Largo era todo gramado e, (ainda tinha a outra parte que hoje se encontra uma quadra de residências e o Shopping Paranaíba) . Uma trilha saia do cruzamento da Vigário Sales com a Visconde de Taunay, e na diagonal ia desembocar, no cruzamento da rua João Pereira Dias, rumo ao antigo cemitério e a leste estava o campo de aviação, com a atual Av. Cel. Augusto Correa da Costa.
A outra rua, formando um “Xis” no largo, saia da Vigário Sales com a 13 de Maio, e ia desembocar no cruzamento da João Pereira Dias e início da Wladislau Garcia Gomes, rumando para a serraria de Jorge Pinhé.
Na rua João Pereira Dias entre os dois cruzamentos, havia um casarão antigo, com paredes de adobes, com esquinas de esteios de aroeira janelões altos com assoalho de taboas largas que ressoavam ao pisar dos hospedes, atraves do alto porão. Bem a sua frente havia um cruzeiro carcomido pelo tempo. Apesar da distancia, sua frente estava voltada para a igreja local. Por ironia um de seus braços apontava para o cemitério, o outro, para a fazenda Serra, isto é, em direção ao recinto da Exposição.
A religiosidade era a maneira mais frequente das pessoas agradecerem ou pedirem aos santos, quaisquer benefícios.
Recordo-me das muitas penitências que acompanhei. Pés descalços, pedra na cabeça, litro d’agua na mão. O trajeto era longo para as crianças, mas, nos divertíamos disputando os últimos montículos de capim. (sempre descalços).
Nos meses mais quentes do ano, sem chuva para molhar o chão, saíamos com sol a pino, em procissão da igreja matriz, para o cruzeiro do largo. Sempre rezando seguíamos rumo ao Cotovelo ( esquina Autogamis R. da Silva com a Cel. Carlos) local hoje atual Supermercado A3) seguindo mais ainda chegávamos frente a casa de Benedito Serrado, onde tinha outro cruzeiro, para lá depositarmos nossas oferendas, isto é, pedras e água para molharmos o pé da cruz. ( porem, sem contar que as vezes nós crianças chegávamos somente com as pedras… a água…kkkk… bebíamos no caminho , com o sol quente…) Nas próximas vezes , por penitência, tínhamos que transportar Santo Antonio de um cruzeiro ao outro…) Tempos felizes!… Mesmo com bolhas nos pés….
Quando a cidade começou a se expandir, por ignorância ou crendices, houve um zunzum entre as pessoas religiosas que, a cidade nunca cresceria para as costas de qualquer cruz, então retiraram o cruzeiro do largo e o da Estiva. Assim também demoliram a Pensão Brasil que foi propriedade nos anos 20 de José Jacob de Almeida e sua esposa Ana, ( foi este o casal que deixou raízes e historia da raça negra em Paranaíba)
A seguir aconteceu…
O CRUZEIRO DO LARGO
Conta-se que no início dos anos 20, por intrigas familiares, o cruzeiro do largo teria que mudar de lugar. Por crendices ou superstições, qualquer cruz , depois de fixada em um lugar, só poderia ser removida para frente ou, para a direção de seus braços. PARA TRÁS, nunca!…
Portanto a frente já existia a igreja com um pequeno cruzeiro roliço e carcomido, da época da colonização. Para um dos braços já existia o cemitério (velho) também ostentando seu cruzeiro. Porem para o outro braço, existia a fazenda Serra com sua mata nativa , mas de qualquer maneira era o local apontado. Limparam um pequeno espaço no meio do mato e para lá o levaram.
A partir daí, (segundo noticiado por um jornal da época deixado por Dr. Noginel de Moura Pegado, uma seca prolongada assolou a região. Passado vários meses, já quase completando dois anos (1922) os moradores em desespero, procuravam através das penitencias, buscar explicações para tamanho castigo. A população reunida ia até o pároco e, atribuíam aos fenômenos da natureza, a mudança do TAL CRUZEIRO.
Numa manhã de domingo, após a missa, o pároco condoído com os rogos da população e da Congregação Coração de Maria, auxiliados por um carro de bois , trouxeram o cruzeiro ao lugar de origem.
Assim passado dois meses de rezas e penitencias, a chuva caiu copiosamente , molhando toda a região.
Como nasci em 1938, conheci o cruzeiro no lugar de origem.
Em 1948, época de minha infância, ainda me lembro dele frente ao Hotel Brasil…
Em 1950, era de transição da modernidade do município… Já não existia nenhum cruzeiro no antigo lugar e outrora!
FOI SÓ ME DESCUIDAR! …
O CRUZEIRO do LARGO DESAPARECEU …
AQUI FICA A HISTORIA …!
Flora Fonseca