Adelina Thiago Dias
“A vida é feita de etapas,
(R. Tagore)
como as do ano são divididas em estações.
Há beleza especial em cada fase,
e tem finalidade própria cada ocasião.
Mudam as cores, passam os perfumes,
vão-se ritmos e ficam as lições.(…)
Essa dádiva de Deus, que é viver,
torna-se a semente da abundância do tempo,
sem limite de tempo,
que se conquista quando bem se passou cada etapa,
na condição de sábio aprendiz da verdade.”
A frase do poeta bengali Rabindranath Tagore, ganhador do Nobel de Literatura de 1.913, resume em suas belas e sensíveis palavras a trajetória de vida de uma das mulheres mais importantes de nossa querida Paranaíba, Adelina Thiago Dias.
E foi com esta frase que a família de Dona Adelina prefaciou, em sua homenagem, um livro biográfico, ao comemorar-se os seus 82 anos de vida, em 20 de março de 1.997.
Mulher à frente de seu tempo, Dona Adelina nunca mediu esforços em ajudar o próximo. Seu trabalho social e benemérito foi intenso e de extremo valor, pelo qual lhe rendeu justas homenagens e reconhecimento.
Dona Adelina é descendente da lendária Maria Antônia Alves Garcia, conhecida por sua força e coragem, mulher de suma importância em nossa história, visto ter vindo para cá nos primórdios da fundação de nossa cidade, trazendo, viúva, toda a sua prole composta de 11 filhos, os quais por aqui ficaram e assim ajudaram a constituir as famílias paranaibenses.
E Dona Adelina é uma delas, ocupando a sua terceira geração, sendo filha de Antônio Thiago da Maia e Clementina Maria de Freitas (Clementina é filha de Francisca Gomes Garcia sendo esta uma das filhas de Maria Antônia Alves Garcia).
Nasceu aos dias 20 de março de 1.915, na Fazenda Fazendinha, neste município.
Mesmo diante das dificuldades próprias da época, Dona Adelina sempre procurou o conhecimento como a base de sua vida, tanto intelectual como espiritual.
Passou a infância rodeada pelos irmão, iniciando na fazenda mesmo os primeiros estudos.
Aos 22 anos de idade casa-se com Diomário Faustino Dias, fazendeiro também de família tradicional da cidade, e desta união nascem as filhas Diones e Kerma.
Juntos, Dona Adelina e seu Diomário formaram um dos casais mais respeitados e estimados, tanto pela atuação no trabalho social, como também no desenvolvimento de Paranaíba. Levaram uma vida de muita dedicação, não só à família, mas como, de forma valorosa e extraordinária, às pessoas mais carentes.
Além deste aspecto humano de desprendimento, acolhimento e auxílio aos mais desafortunados, foram cidadãos visionários e ativos que muito fizeram pelo desenvolvimento de nossa cidade, incluindo doações de terrenos e participação na política e no social.
Valorizavam as coisas simples da vida. Praticavam o cultivo da amizade, da solidariedade, o respeito à Pátria, a preservação da natureza e o respeito aos animais.
Vale ressaltar que ainda estão preservadas inúmeras das árvores que, em vida, plantaram. Desde jabuticabeiras a goiabeiras, mangas e cocos, que ainda estão a produzir. Também resiste o Ypê roxo, a Dama da Noite e a roseira, todos ainda a florir.
Com o apoio de seu companheiro Diomário, Dona Adelina exerceu não só o seu papel de mãe e esposa exemplares, mas posicionou-se como um ser humano que se importava sim, com a diferença que poderia fazer na vida de outras pessoas. Foram inúmeros os seus gestos e ações de benéfice e amparo ao próximo que fez no decorrer de sua vida. Foram inúmeras as campanhas de arrecadação solidária. Abria as portas da própria residência para receber, sempre com alegria, simplicidade e altruísmo, todos aqueles que necessitavam. E era ali, no quintal de sua casa, que construíra a “Barraca da Fraternidade”, e assim proporcionava a alegria das crianças carentes com a distribuição de picolés, saciava a fome de muitos com a distribuição de sopas e com a campanha de arrecadação de agasalhos e cobertores os protegia nas noites frias.
Tais gestos, claro, ficaram imortalizados nos corações de todas essas famílias e a sua lembrança ainda hoje é mais do que viva e agradecida.
Dona Adelina era essa mulher de extremo apego ao bem estar do próximo, e pregava o Evangelho não só com palavras, mas com verdadeiras e eficazes ações sociais. Pode-se, com extrema certeza, dizer que o seu engajamento social foi a escrita diária de sua vida.
E não parou por aí, pois a dimensão de sua bondade não media esforços em amparar seja quem fosse.
Assim, a maior e mais árdua obra de sua vida ainda estaria por vir ao se voltar para outros tipos de necessitados, que muitas vezes ficavam esquecidos, e até mesmo desprezados perante tanto em sociedade como, e infelizmente, na própria família.
Para amparar as pessoas portadoras de transtornos mentais e psiquiátricos, foi “intuída” espiritualmente à construção do Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. Para tanto, novamente fez tudo o que estava ao seu alcance para a sua realização, não pensando duas vezes em ceder parte do terreno de sua casa para a construção do mesmo.
Fundado no dia 03 de setembro de 1.973, foi de singular importância para nosso estado, pois somente nossa capital Campo Grande, distante cerca de 400 km, possuía outro de igual finalidade. Sua importância estabeleceu-se ainda mais no decorrer dos anos, em decorrência de seu atendimento sério, cada vez mais profissional, especializado e humano, sendo referência na área.
Hoje o hospital passou a ser denominado Instituto Adelina Thiago Dias, e mantém-se em amplo funcionamento.
D. Adelina foi de encontro aos braços do Pai aos dias 15 de maio de 2.003, ficando imortalizada pela própria história que escrevera, a qual continua a produzir novos capítulos pelos frutos que ainda são colhidos pelo que semeara a vida inteira.
E aqui mais uma vez R. Tagore oportunamente se faz presente, ao final desse breve relato desta digna e honrada mulher, Adelina Thiago Dias, quando ele assim bem diz:
“Vão-se as rosas mas seu perfume permanece aqui.”
Marilu Menezes
Saudades destes tios maravilhosos! Um casal que estava sempre pensando em ajudar os que necessitavam. A construção do Hospital psiquiátrico é uma prova inequívoca do bem fizeram por Paranaíba e região.